17 de novembro de 2010

A Obra de Juan Rulfo


Entre os escritores hispano-americanos que encantaram e continuam encantando muitos   leitores,  amantes  da boa  literatura,  merece destaque o mexicano Juan Rulfo (1917 – 1986). Filho de proprietários de terras que foram arruinados com a revolução mexicana nasceu em Sayula, no estado de Jalisco, uma região de paisagem árida e desolada que exerceria uma influencia significativa na composição de sua obra.   Em sua vida teve varias profissões, estudou direito, foi funcionário do Serviço de Imigração, vendedor ambulante de uma pequena fabrica de pulque (bebida fermentada do liquido de determinado cacto), entre outros. Paralelamente escrevia contos que eram publicados em revistas literárias.

Em 1953 estes contos foram reunidos em um livro intitulado Chão em chamas. Nestes o autor procura abordar o lado negativo da revolução mexicana. Juan Rulfo costumava dizer que escrevia para combater a solidão. A mesma solidão sempre tão latente em seus personagens e onde figuram suas obras no vasto campo de estilos e tendências da literatura, pois além do livro de contos publicou apenas mais um romance em 1955, Pedro Páramo. Em ambos adotou uma expressão e uma técnica narrativas incomparáveis e até hoje inimitáveis. Depois disso entregou-se a um silêncio que duraria, apesar de sucessivas cobranças, até o ano de sua morte, em 1986.  De acordo com suas próprias palavras jamais conseguiu escrever qualquer coisa que valesse a pena publicar. A principal característica de seu estilo é o corte e a precisão: "No começo, você deve escrever levado pelo vento, até sentir que está voando. A partir daí, o ritmo e a atmosfera se desenham sozinhos. É só seguir o voo. Quando você achar que chegou aonde queria chegar é que começa o verdadeiro trabalho: cortar, cortar muito."

O resultado é um texto conciso e contido, mas de uma profundidade e uma amplitude social e humana que tem suscitado inúmeros e extensos tratados a respeito deste autor e de sua obra.



No romance Pedro Páramo acompanhamos a trajetória de um filho em busca do pai. A narrativa tem inicio quando Juan Preciado está a caminho de Comala, cidade natal de sua mãe, com o objetivo de cumprir a promessa que fez a esta em seu leito de morte: "Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo.  Minha mãe me disse.  e eu prometi  que viria vê-lo assim que ela morresse."

Ao chegar lá Juan preciado encontra apenas desolação e abandono. Seu pai, Pedro Páramo havia sido um grande proprietário de terras, o homem mais poderoso daquela região.   Posição que conquistara a custa de violências e extorsão.  Depois da morte deste a população não mais consegue resistir à miséria que assola a cidade e gradativamente a abandona. Assim a Comala que Juan Preciado conhece não passa de um  lugar em ruínas,  habitado por fantasmas e lembranças e envolvido por uma atmosfera nebulosa e sombria, assemelhando-se mais  aos sonhos  que a realidade. Ali, Juan Preciado vaga confuso e perdido entre pessoas que nem sabe mais se estão vivas ou mortas, pessoas que entre gritos e sussurros contam suas dores, que são também as dores do próprio México. Até que Juan Preciado não consegue mais suportar o peso daquela angustia e finalmente sucumbe: "Os murmúrios sussurrados me mataram. Embora eu trouxesse um medo atrasado. Tinha vindo se juntando, até que não aguentei mais. E quando me encontrei com os murmúrios minhas cordas arrebentaram."

A história não segue uma sequência linear. É composta, na verdade  por fragmentos que se confundem no tempo e no espaço, e que o   autor vai tecendo até formar um quadro representativo da situação social e rural em que se encontrava o México à época do romance. Em alguns momentos a narrativa é em terceira pessoa, em outros é em primeira, onde acompanhamos o ponto de vista de alguns dos personagens.

Apesar de ser um livro pequeno, Pedro Páramo abrange muitos temas em suas 137 páginas. Tendo no centro o personagem Pedro Páramo, um homem poderoso e cruel que vai se corroendo em vida por conta de um amor não correspondido, acompanhamos simultâneamente diálogos e monólogos que compõem outras histórias de violência, injustiça, vingança, resumindo são vários livros dentro de um só, como assinala o escritor Eric Nepomuceno. Com certeza vale muito à pena conhecer a obra deste autor, que apesar de pequena exerceu e exerce muita influencia pelo mundo afora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário