Quantos de nós pensamos equivocadamente que a idéia de um mundo interativo entre humanos e robôs é nova? Quando falamos sobre essa questão temos em vista o Japão e seus crescentes avanços tecnológicos, seus robôs cada vez mais humanos, com expressões mais reais, movimentos buscando a equiparação com a leveza do andar humano, ou seja, um robô nos nossos moldes. O que aconteceria em uma realidade onde a existência humana entrasse em confronto ideológico com a destes seres? Até onde poder-se-ia afirmar que um robô tem existência própria?
Pois foram a estas questões que o escritor Isaac Asimov (1920 – 1992) dedicou parte de suas obras. Isaac Asimov nasceu em um gueto (Petrovichi) da cidade russa de Smolensk no dia 02 de janeiro de 1920 . Foi com sua família para os EUA em 1923 sendo criado em Nova York no bairro do Brooklyn. O Dr. Asimov estudou na Universidade de Columbia, onde se graduou em 1948; foi professor assistente de Bioquímica na Escola de Medicina da Universidade de Boston. Em 1958, deixou este cargo para se dedicar inteiramente à sua atividade de escritor. O nome deste autor tornou-se familiar no decorrer das últimas décadas, tanto para cientistas como para leitores de ficção-científica. Escritor de enorme talento e assaz prolífico, ostenta um impressionante recorde de mais de cinqüenta sucessos literários no domínio da ficção e da não ficção.
Isaac cansado da limitação literária que se difundiu devido ao clássico de Mary Shelley “O Frankenstein”, onde o homem desafia a morte e cria um ser artificial dotado de inteligência e capacidade, mas que acaba por eliminá-lo em um terrível complexo, onde o ser acaba se revoltando contra seu criador, numa espécie de punição por tentar imitar a Deus.
Pois esta chamada “Teoria Frankensteiniana” influenciou vários autores antes de Asimov, tornando a literatura repetitiva e sem muitos horizontes. Farto desta idéia Isaac Asimov propôs escrever algo diferente, que mudasse essa visão.
Neste livro, dividido em 9 contos, Asimov percorre a estória da robótica na humanidade apoiada sobre três pedras fundamentais, as três leis da robótica:
1- Nenhum robô pode ferir um ser humano, nem permitir que sofra, por inação, qualquer dano;
2- Um robô tem que obedecer às ordens que lhe forem dadas pelo ser humano, a menos que contradigam a primeira lei;
3- A obrigação de cada robô é preservar a própria existência, desde que não entre em conflito com a primeira ou a segunda lei.
Alicerçando-se nestas afirmativas Asimov demonstra as várias reações dos robôs que muitas vezes parecem figuras metafóricas de algum preconceito que hoje vivemos.
O primeiro conto, intitulado “Robbie” narra a história de um robô sem voz, tendo de sofrer o ostracismo de uma sociedade que vê na ascensão maior dos robôs a perda da autonomia. Robbie tem a função de ser um robô-babá de uma garotinha. Afeiçoada a ele ela deixa de lado amigos humanos para desfrutar de sua companhia e então sua mãe percebe nisso uma “ameaça”. Um robô não pode ser amigo de um humano, esta é a grande afirmação que se dissolve no decorrer da narrativa.
“Brincadeira de Pegar” é o conto subseqüente, capaz de mostrar como uma máquina se perde entre as considerações de ser ou não ser, Speedy dividido entre a segunda e a terceira lei, não é capaz por si só de escapar da inevitável ordem recebida e a auto-proteção exigida sendo necessária a intervenção externa de Powell e Donavan que lhe tira da incógnita em que se debatia.
“Razão” narra a estória de Cutie um robô dotado da incrível capacidade da razão, onde este desenvolve a capacidade de análise e racionalização da realidade, acabando por concluir que era superior aos humanos, não devendo a estes obediência mas ainda sim preso a primeira lei. Logo, não podendo admitir que foi criado por um ser “inferior” busca a justificação de sua existência apoiada numa força maior que em seu contexto é o conversor de energia, para o qual ele foi criado. É uma verdadeira análise sobre o homem e Deus.
“Pegar o Coelho” mostra a dificuldade em se lidar de maneira eficiente com várias seres independentes de nós. Dave é encarregado de 5 robôs menores que são considerados parte dele mas mesmo assim possuem uma própria “mente”, sobrecarregado de tensão este não consegue o controle em situações difíceis e “surta” no meio de uma crise. É uma visão sobre o trabalho moderno.
“Mentiroso!” é uma pérola, relata a história de um robô RB-34 de nome Herbie, capaz de se conectar e “ler” pensamentos humanos, na busca de uma equação que explique a anomalia do robô os doutores Alfred Lanning, Peter Bogert, Susan Calvin e Milton Ashe. O problema é que este robô obedece a primeira lei e não pode ferir seres humanos tanto externa quanto internamente e por isso e prega algumas “mentiras” que depois se voltam contra ele em uma ira que o deixa louco. A mentira tem perna curta.
“Pobre Robô Perdido” encontra-se no limite da primeira lei, modificada para modificada para que ele desempenha-se uma função, ele acaba desenvolvendo um complexo de superioridade ao receber uma ordem para desaparecer este se esconde no meio de outros robos do mesmo tipo, trava-se então uma batalha entre a inteligência limitada e a lógica e dedução infinitas.
“Fuga!” este conto narra uma viagem para o fantástico, uma máquina que não pode assimilar a idéia de morte humana tem de desenvolver uma nave que levará seus tripulantes a morte e a vida.
"Prova" retrata a manipulação da opinião publica através dos escândalos por mais absurdos que possam ser, e a luta entre a cidadania e o sistema de favores e vantagens.
Por fim, "O Conflito Evitável", onde as Máquinas passam a projetar o futuro, eliminando as possibilidades de uma guerra e garantindo sua existência como o melhor para toda a humanidade, onde a primeira lei ganha outra interpretação mais global: "Um robô não pode causar mal a humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal, nem permitir que ela própria o faça."
O livro passa por diversas contradições humanas e as contrapõem numa lógica perfeita. Indicado para todos os públicos, "Eu, Robô" é mais que uma ficção, é um passeio entre possibilidades e uma descoberta nova a cada página. Ensina que nem tudo aquilo que o homem constrói é para sua própria destruição, é a união, não perfeita, pois em um mundo material é impossível, mas uma união equilibrada a partir do tempo e sustentável. Sobretudo, o livro nos ensina que devemos administrar melhor nossos recursos tanto teórico quanto materiais para que a soberania individual não acabe por atropelar e extinguir nossa humanidade.